É muito provável que você já tenha ouvido ou lido a respeito da evolução do conceito de Torre de Controle. Ao contrário do que possa parecer não se trata de mais uma buzzword do mercado. Há muito tempo esse conceito já existia com o nome de cockpit de operações ou algo parecido. Ocorre que com o avanço da tecnologia de informação e comunicação (TIC) muitas funcionalidades que um cockpit de operações propunha tornaram-se muito mais acessíveis. Atuam como “enablers” desse tipo de solução tecnologias como IoT (internet of Things), Cloud (computação em nuvem), redes de transmissão de dados e a própria internet.
De modo simplificado, a Torre de Controle centraliza um conjunto de dados que devidamente tratados geram informações para tomada de decisão. O objetivo da Torre de Controle é responder algumas perguntas como:
- O que está acontecendo?
- Por que está acontecendo?
- O que poderá acontecer?
- Quais as consequências (do que está acontecendo e do que poderá ocorrer)?
- Que ações precisam ser disparadas para reduzir os impactos negativos ou potencializar impactos positivos?
E indo um pouco mais longe……
- No caso de consequências negativas, o que devemos fazer para reduzir as chances de que venha a ocorrer novamente?
- O que aconteceria se (what if) …….
Não é difícil imaginar o quanto um gestor da cadeia de abastecimento gostaria de ter a resposta para todas essas questões. E embora a tecnologia desempenhe um papel crucial para tornar viável essa solução qualquer torre de controle é fruto de um trabalho estruturado que envolve a combinação sinérgica e permanente de uma eficaz gestão de processos organizacionais, tecnologia de suporte a esses processos e, principalmente, das pessoas envolvidas em todos os níveis da organização.
A jornada da implementação de uma Torre de Controle
Em se tratando da implementação de uma Torre de Controle é importante considerar que não é recomendável vender ilusões de que os resultados virão no curto prazo. Certamente, a partir do que já foi dito, é possível dizer que são grandes os benefícios em termos de aumentar a responsividade da cadeia a partir da sua implementação. Ter esse conjunto de informações disponíveis para a tomada de decisão, em tempo real, pode fazer a diferença em atender ou não um cliente e consequentemente impactar os principais indicadores de desempenho da cadeia e nível de serviço. Porém é importante ser realista e pensar na sua implementação como uma jornada.
Nesse sentido é possível considerar os seguintes passos para começar a sua implementação de uma Torre de Controle:
- Identificar onde estão os principais pain points ou pontos fracos nos elos da cadeia de abastecimento;
- Definir quais as melhorias necessárias para reduzir ou eliminar esses pain points;
- Analisando esses pontos fracos, identificar quais seriam os que proporcionariam maior impacto positivo (redução de custo, incremento de produtividade) caso fossem solucionados;
- Elaborar uma matriz de esforço vs.
Certamente ao elaborar essa análise surgirão dúvidas de qual a abrangência dessa torre de controle. E é aqui que precisamos reforçar o conceito de jornada. Comece pequeno, mas sem deixar de olhar até onde se quer chegar. Uma torre de controle robusta vai demandar um esforço razoável de toda a organização e de seus parceiros de negócio.
Atualmente a gestão da cadeia de abastecimento não pode se limitar aos domínios da própria organização, mas é preciso expandir as eficiências alcançadas para todos os parceiros de negócio. É nesse momento que vai surgir a necessidade de se desenvolver um intenso esforço de colaboração com os parceiros. E, como sabemos, aspectos culturais e de tecnologia, entre outros, de cada stakeholder precisarão ser considerados.
Imagine-se a situação em que é necessário avaliar a disponibilidade de produto (promessa de entrega), localização da carga, estimativa de chegada na fábrica ou depósito sob certas condições propostas em um determinado cenário. Impossível a tomada de decisão sem envolver os parceiros. E não estamos falando de envolver os parceiros por telefone ou e-mail. Isso já fazemos e temos um lead-time de resposta nem sempre satisfatório. Estamos falando em mudar esse lead-time de dias para horas. A proposta da torre de controle é proporcionar uma solução automatizada e absolutamente confiável desse tipo de necessidade. E nesse caso estamos envolvendo fornecedores e seu plano de produção, transportadores e suas rotas e eventualmente um operador logístico. Portanto o esforço de implementação de uma torre de controle com essa abrangência não pode ser considerado trivial.
Feitas essas considerações é perfeitamente possível considerar a implementação da torre de controle a partir de uma abordagem mais modesta, porém efetiva em trazer resultados no nível de serviço ao cliente. A proposta seria concentrar o foco da torre de controle na gestão logística envolvendo armazenagem e distribuição, ou seja, do armazém até a entrega ao cliente final. E esse cliente final pode ser o consumidor final (B2C) ou um intermediário (B2B).
Uma situação que favorece essa abordagem, o foco em logística de entrega, é a crescente necessidade de prover informações para otimização do first mille/last mille, etapas consideradas críticas seja ao considerarmos os custos e/ou a qualidade do serviço prestado e percebido pelo cliente. Qualquer disfunção nessa etapa da cadeia de abastecimento pode levar por terra um enorme esforço de planejamento e gestão.
Nesse sentido os sistemas TMS (transportation management system) desempenham um papel fundamental ao prover dados que cobrem a movimentação da carga desde a separação, solicitação de transporte, embarque, agendamento e acompanhamento da entrega e avaliação de desempenho dos parceiros (transportadores). Sem deixar de lado a auditoria de fretes considerando as informações de NFs, tabelas de preços e embarques entre outras funcionalidades. Dessa forma ao prover total visibilidade do processo de distribuição, devidamente integrado com os parceiros, é possível tomar decisões que otimizam o processo de entrega de produtos o que proporciona ganhos qualitativos através da gestão desse mesmo processo em tempo real. O TMS também vai proporcionar um controle muito mais efetivo sobre as despesas de frete através do processo de auditoria.
Voltando ao conceito de jornada de implementação da torre de controle, é preciso lembrar que uma torre de controle focada no processo logístico de distribuição é apenas o começo. Naturalmente surgirão mais necessidades de integração, seja com parceiros internos ou externos a organização. Daí a importância de iniciar a jornada, por exemplo, através de uma etapa onde a visibilidade é fator crítico de sucesso. Algumas das questões colocadas no início desse texto já podem ser respondidas a partir da implementação, o que seguramente vai proporcionar ao cliente um melhor nível de serviço, seja através da gestão do processo de distribuição ou através de ações corretivas para mitigar e/ou reduzir eventuais disfunções.
Finalmente, é preciso considerar que a torre de controle tende a se tornar um importante repositório de dados da cadeia de abastecimento. Normalmente o próprio sistema TMS já se utiliza desses dados para a definição de critérios de avaliação para cálculo dos indicadores de desempenho das transportadoras como pontualidade, divergências de cobrança, entre outros.
Mas é preciso considerar que estes indicadores são apenas mais um componente de um futuro dashboard para monitorar e controlar o desempenho de toda a a cadeia de abastecimento. Como dito anteriormente, é apenas o começo da nossa jornada de implementação da torre de controle de supply chain. Outra funcionalidade que a torre de controle vai proporcionar, a partir desses dados, é a utilização de sistemas de inteligência artificial (IA) como machine learning (ML) e/ou natural language understand/processing (NLU/NLP) que poderão ser aplicados para gerar prescrições sobre o comportamento da cadeia. Com a análise dos dados extraídos a partir desse comportamento poderemos aplicar ações pró ativas antes que os problemas ocorram e até mesmo automatizar a tomada de decisão.
Resta, portanto, iniciar essa jornada de transformação e o seu sistema TMS pode ser uma excelente alavanca para criar e liberar todo o potencial de uma torre de controle.
Autor
José Roberto Lyra (linkedin.com/in/joserobertolyra)
Sócio da vcs²pro Consulting Services
Sobre a vcs²pro Consulting Services
A vcs²pro Consulting Services desenvolve projetos customizados de consultoria em gestão empresarial com foco na melhoria da eficiência dos processos da Cadeia de Valor, atuando para garantir o alinhamento da estratégia corporativa até a execução operacional.